Ouro Branco e suas transformações no século XX


Aline Alves Presot

O município de Ouro Branco sofreu intensas transformações nos últimos cinquenta anos. A pequena cidade, de passado colonial, com ruas estreitas que abrigam um casario centenário e a bela Matriz de Santo Antônio (1779), exemplar do barroco mineiro, emancipou-se da vizinha Ouro Preto em 1956. Até final da década de 1970, viviam na cidade cerca de quatro mil pessoas, a maioria nas áreas rurais. Dedicavam-se à agricultura, especialmente da batata inglesa, do milho e do feijão.

Nesse período, a cidade foi escolhida para sediar um grandioso empreendimento estatal: a construção da Usina Presidente Arthur Bernardes (Açominas) a partir de de 1976. Teve início então uma nova fase de desenvolvimento da região. Apenas para as obras iniciais de construção da usina siderúrgica, foram transferidas cerca de 20 mil pessoas para o município, um número cinco vezes maior que sua população anterior.

Para abrigar os trabalhadores da Açominas e seus familiares, que vieram de várias partes do país, foram construídos cinco novos bairros, os “núcleos industriais”, a Escola Estadual Iracema de Almeida (1979) e o Hospital Fundação Ouro Branco (FOB) (1985). O primeiro bairro a ser construído foi o Siderurgia. Em seguida, seriam erguidos os bairros Primeiro de Maio, Metalúrgicos, Pioneiros e Inconfidentes. Os núcleos industriais datam do início da década de 1980.

As moradias eram destinadas aos trabalhadores de acordo com a posição que ocupavam na empresa e sua faixa salarial. Os bairros Primeiros de Maio e Metalúrgicos, mais próximos da usina, foram destinados aos operários. Siderurgia e Pioneiros aos trabalhadores de nível técnico. E o bairro Inconfidentes aos trabalhadores especializados, como os engenheiros. Desse modo, reproduziu-se, no espaço da cidade, a hierarquia existente na empresa, o que acabou por influenciar as relações entre as pessoas.

Não é difícil imaginar que a construção dessa “nova” cidade tenha modificado profundamente a vida dos antigos moradores de Ouro Branco. Esse impacto revela-se ainda maior diante do fato de que a empresa, quando sediada no município, tornou-se proprietária de uma grande extensão de terras e iniciou um processo de desapropriação que afetou muitas famílias. Isso quer dizer que um grande número de pessoas teve que deixar suas casas ou sítios, pois eles seriam derrubados para a construção da Açominas e dos bairros industriais.

Como terão reagido essas pessoas diante das desapropriações e, posteriormente, reorganizado suas vidas? Que memórias construíram desse período? Como se relacionaram com os então novos moradores? Como os “forasteiros” se relacionaram entre si e com a cidade? Existe, ainda, a percepção da existência de uma “cidade nova” e uma “antiga” em Ouro Branco ou a cidade vive uma fase de total integração?

Buscando responder a esses e outros questionamentos desenvolvemos, no IFMG, campus Ouro Branco, o projeto intitulado “Nós e os outros: memória e identidade na construção dos bairros industriais em Ouro Branco- Minas Gerais (1976-1993)”. Nele, procuramos realizar um resgate das memórias do período (que vai até o ano de 1993, data de privatização da Açominas) através da realização de entrevistas com moradores da cidade, que irão compor um acervo documental sobre o município.  Esse acervo, além dos registros de memórias, reunirá também documentos escritos, fotografias, além de outros registros iconográficos e cartográficos, como mapas e plantas da cidade. Parte da documentação, doada por moradores da cidade, vem sendo catalogada e arquivada pelos pesquisadores envolvidos no projeto.

O site “Histórias de Ouro Branco-MG” é, também, um importante produto dessa pesquisa. Através dele serão divulgadas digitalmente as conclusões do projeto acadêmico, além dos documentos armazenados ao longo da investigação. O objetivo é oferecer a estudantes, professores, bem como a toda comunidade interessada, importantes ferramentas de pesquisa nas áreas de história, educação, turismo e patrimônio cultural.

Participam do projeto os professores do IFMG, campus Ouro Branco, Aline Alves Presot, da área de História, Rodolpho Gauthier dos Santos, professor de História e coordenador do curso superior em Pedagogia, e os alunos e alunas dos cursos das Licenciaturas em Pedagogia e Computação: Flávia Vecchi Ferreira Ribeiro, Geazi Oliveira da Fonseca, Maria Raquel Honorata de Oliveira, Paloma Cristina Gonzaga de Oliveira, Sabrina Vieira de Oliveira Martins e Viviane de Cássia Gomes.

No ano de 2018, foi criado o NUPHMOB (Núcleo de Pesquisas sobre História e Memória de Ouro Branco). Esperamos que o grupo possa reunir um número cada vez maior de estudantes e venha a realizar outras pesquisas para além da temática e do recorte temporal adotados, contribuindo, assim, para a valorização e resgate da história e memória dos mais diversos segmentos sociais do município de Ouro Branco-MG.